Antigo reguengo medieval vinculado ao território de Sintra, a Carvoeira beneficiou de foral passado por D. Manuel I, em 28 de Outubro de 1514. Durante mais de três séculos, parece ter tido administração autónoma, mantendo-se o estatuto de reguengo até ao século XVII, altura em que a coroa o vendeu a privados, conhecendo-se alguns donatários de apelido Lavre. Em 1836, extinto o município, passou a freguesia do concelho da Ericeira e, em 1855, integrou o município de Mafra. Ainda se conserva a antiga casa da Câmara, descrita em meados do século XIX como tendo dous altos, e dous baixos, com sua escada exterior de pedra e que acomodava sala de reuniões, cadeia, açougue e, muito possivelmente, tribunal.
A razão de individualidade da Carvoeira não estava, contudo, na linha de costa, mas sim um pouco para o interior do território, onde passava o Rio Grande do Porto. Conhecido como Ribeira de Cheleiros ou Rio Lisandro, este curso fluvial dispunha de um cais perto da actual Capela de Nossa Senhora do Ó, onde se pensa que eram carregadas as embarcações de carvão rumo à capital. Aqui ainda se conserva a antiga ponte medieval sobre o rio Lisandro e a capela, cuja singeleza pode confundir-se com uma simples ermida rural, mas cujo estatuto ao longo da História, como Igreja Paroquial da Carvoeira, lhe asseguram uma especial importância na herança do concelho.

Terra de lendários eremitas, que procuraram o isolamento nas inóspitas falésias de S. Julião, conta-se que uma das atribuições dos seus habitantes era a de montar sentinela a um facho de sinalização, que a tradição coloca na Idade Média e justificável ante o perigo muçulmano, mas que deve antes estar relacionado com a navegação marítima. Presume-se que o nome de Carvoeira se tenha devido ao facto de outrora, junto à velha ponte que se julga romana, se carregarem barcos com carvão com destino a Lisboa.

Em São Julião conserva-se uma interessante ermida de peregrinação, que já estava construída na segunda metade do século XVI. Ao longo da sua história, muitos foram os círios que aqui vieram em romaria, pernoitando no conjunto de habitações modestas que ladeiam o templo. O seu período áureo deve ter-se registado na segunda metade do século XVIII, época a que corresponde o essencial do monumento e o seu magnífico revestimento azulejar. Neste local, resistiu Mateus Álvares ao domínio espanhol, fazendo-se passar por falso D. Sebastião e intitulando-se Rei da Ericeira. Uma das festividades cíclicas mais características desta freguesia é o Círio da Ribeira de Pedrulhos/Círio da Água-pé, que ocorre em Setembro, no lugar de S. Julião.
Esta terra… CARVOEIRA… gozava de um privilégio curioso: no local onde o rio que atravessa a freguesia desagua no mar, existia um local de vigia, chamado facho, onde se acendia uma fogueira quando era avistada alguma embarcação dos mouros.

Relógio de Sol cúbico em pedra, vertical meridional, ocidental e oriental com gnómon em ferro, numeração romana e datado de 1754.

Os habitantes da freguesia estavam isentos de serem soldados, mas, em contrapartida, eram obrigados a fazer sentinela ao referido facho, acendendo uma fogueira se necessário fosse.

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