Nem sempre as coisas acontecem no Tempo que desejamos. É preciso estar atento e aprender a esperar.
Emília Pires

Cascais

A ocupação humana na área que hoje constitui o concelho de Cascais deverá remontar ao Paleolítico Inferior, como o atestam os vestígios encontrados a norte de Talaíde, no Alto do Cabecinho (Tires) e a sul dos Moinhos do Cabreiro.

O estiolamento das villae romanas conduziria ao surgimento de modestos casais rurais já no período visigótico, que durante os quase quatro séculos e meio de domínio muçulmano se multiplicariam para formar uma constelação de pequenas aldeias que ainda hoje constituem parte fundamental da matriz identitária do concelho. Este facto é atestado pela abundante toponímia de raiz árabe, assim como pela afirmação do primeiro povoado de certa importância: Alcabideche, cujos moinhos de vento o poeta Ibn Mucana celebrou na segunda metade do século XI.

«Ó tu que habitas Alcabideche! Oxalá nunca te faltem
cereais para semear, nem cebolas nem abóboras
Se és homem decidido precisas de um moinho
que trabalhe com as nuvens sem dependeres dos regatos»

 

A Santa Casa da Misericórdia de Cascais, fundada em 1551, instalou-se na Ermida de Santo André, que no ano de 1575 já considerava sua, mandando executar em 1590 um retábulo atribuído a Cristóvão Vaz de que subsistem quatro tábuas, atualmente em exibição no Museu.
A destruição provocada pelo terramoto de 1755 conduziria, entre 1759 e 1781, à edificação de uma nova Igreja da Misericórdia, de gosto neoclássico, marcado pelo frontão curvo interrompido que encima a entrada principal. Contudo, por dificuldades financeiras, a obra não seria concluída, nomeadamente ao nível do remate da frontaria e das torres sineiras, que em 2022 viriam a ser intervencionadas e dotadas de um novo sino.
Na parte detrás da Igreja encontra-se um relógio de Sol inclinante sem gnómon.

A Cidadela e a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, situada no seu interior, fazem parte dos fortes militares construídos entre os séculos XV e XVII para defesa da costa e da entrada do Tejo.
Em 1488, D. João II mandou construir a torre fortificada na ponta do Salmodo, devido aos frequentes desmandos da pirataria inglesa, francesa e moura e à necessidade de tornar mais eficaz a defesa de Lisboa.
Logo à entrada do forte num nicho cavado na esquina do edifício vê-se um relógio de Sol Vertical Meridional em pedra, datado de 1856.

O Museu Condes de Castro Guimarães está instalado na antiga Torre de S. Sebastião, edificada entre 1897 e 1900, na enseada de Santa Marta por iniciativa de Jorge O’Neill, um aristocrata e financeiro de ascendência irlandesa.
A antiga Torre de S. Sebastião passa a Museu por mérito de Manuel Inácio de Castro Guimarães (1858-1927), segundo proprietário da Torre de S. Sebastião, agraciado com o título de Conde de Castro Guimarães, por D. Manuel II, em 1909.
Em 1924 o Conde de Castro Guimarães legou em testamento, à vila de Cascais, a casa e todo o seu recheio artístico e bibliográfico, para aí se constituir um museu municipal e biblioteca pública, em ligação com os jardins e o parque contíguo “para recreio do público”. O museu foi inaugurado em 12 de Julho de 1931.
No claustro podia ver-se um relógio de sol horizontal em mármore com gnómon em ferro, que agora se encontra nas reservas do museu.

O estudo arqueológico da villa romana de Freiria, em S. Domingos de Rana, foi apresentado como tese de doutoramento de Guilherme Cardoso. A sua investigação mostrou quanto esta casa de campo romana detinha de singular no conjunto de estruturas idênticas encontradas no território português. Entre os achados que mostram a cultura das gentes que viveram em Freiria, foram recuperados dois fragmentos de um quadrante solar de pedra, em calcário da região, permitindo a reconstituição da quase totalidade do relógio, cerca de três quartos, e determinar, desde logo, que se trata de um quadrante de tipo cónico, e gnómon horizontal, expressamente construído para uma latitude muito próxima da do local: 39-40 graus. De secção meio cilíndrica, apresenta um orifício central na parte superior, para fixação do gnómon, com 12 mm de diâmetro e a profundidade de 28 mm. No pequeno buraco observam-se, ainda, vestígios de chumbo. Servia para regular as horas do dia. E se esta afirmação pode ser vista como banal e desnecessária, não o é na verdade, porque a sensibilidade ao tempo – que ora obrigatoriamente nos está ‘na pele’ – não é assim tão frequente em eras recuadas e, no que diz respeito aos Romanos, o achado de quadrantes não é comum. Era, pois, intenção dos proprietários da ‘villa’ que houvesse já uma organização – e também este é um bom sintoma de assaz significativo índice cultural.
José d’Encarnação – Jornal Costa do Sol , nº 127, 17-02-2016, p.6.

No número 6 da Travessa da Conceição, onde funcionam os Serviços Jurídicos da Câmara Municipal de Cascais, encontrámos mais um relógio vertical meridional em pedra mármore, sem data.

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