O que é o Tempo? Cada um de nós interpreta-O à sua maneira. Assim, o Tempo é relativo.
Emília Pires

Existe uma “lengalenga” bem antiga, que conhecemos desde crianças porém, desconhecemos a sua proveniência:

“O tempo pergunta ao Tempo quanto tempo o Tempo tem. O Tempo responde ao tempo que o Tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem”.

Primitivamente, conforme diz a história, o primeiro relógio construído e usado pelo homem foi o gnómon. Era um pau ou pedra que, iluminado pelo sol ou pela lua, projetava sua sombra, que se movia com o passar das horas e entre o seu ponto inicial e seu ponto final, havia um espaço que o homem fraccionou, criando a divisão do tempo.

O mais antigo relógio de sol conhecido, está exposto no Museu de Berlim. Acredita-se que foi construído por volta de 1504 – 1450 a.C., no Egito, na época de Tutemósis III. Chamado de régua egípcia, era em pedra, na forma de um T, com uns 30 cm, suportando uma outra peça de mesmo comprimento e perpendicular. As linhas de hora eram marcadas na pedra a intervalos regulares. O T era voltado para o este na parte da manhã e a oeste na tarde. A posição da sombra da parte superior do T indicava a hora.

No 2º Livro dos Reis , XX, 9 – 11 e Isaías XXXVIII, 8 a Bíblia conta-nos uma história onde entra o relógio de Sol do Rei Acaz, 700 anos a.C.
Muito usado naquela época o relógio de Sol de Acaz era uma espécie de escada onde o Sol se mostrava através dos degraus.

Berossus, sacerdote e astrónomo caldeu (300 a.C.), desenvolveu um tipo de relógio com uma concavidade hemisférica, que reproduzia a cúpula celeste esculpida num bloco de pedra, no centro da qual havia um gnómon perpendicular, e que indicava também as linhas de solstícios e equinócios. O caminho percorrido pela sombra era aproximadamente um arco. O comprimento e a posição deste caminho variavam com as estações e por isso vários arcos eram marcados, com 12 divisões iguais. Eram as horas “temporárias”, porque variavam durante o ano.

No Egipto os obeliscos também funcionavam como relógios de Sol.

Como as maneiras de marcar o tempo, que ia inventando, não eram confiáveis, o homem continuou a fazer experiências:

Clepsidra egípsia

O relógio de água, ou Clepsidra, era um  recipiente cheio de água com as paredes graduadas e um pequeno orifício para a água sair. Cada descida de duas graduações correspondia à passagem de 1 hora. O Clepsidra difundiu-se por toda a Europa e Ásia, até o século XVI, quando era o mais exato medidor das horas sem sol. Um dos exemplares mais antigos deste relógio encontra-se em Marrocos, na cidade de Fez. Foi construído em 1357, quando do reinado do sultão Bou Inania. Durante 100 anos marcou as horas das preces dos muçulmanos.

Desenho da autoria do Comandante Sousa Machado, “Tesouros dos Prudentes”, in Fernando Correia de Oliveira, op. cit., p. 18

O relógio de areia ou ampulheta, também inventado pelos egípcios, consistia em dois cones de vidro ligados por um pequeno orifício que regulava a passagem de areia colocada no cone de cima. Depois era só virar o instrumento e repetir o processo. A ampulheta apareceu no século VIII e evoluiu com o fabrico do vidro que a tornou hermética, garantindo a fluidez da areia. Usava-se também pó de mármore moído, que era fervido em vinho e seco ao sol. Levada para a Europa, a ampulheta foi utilizada pelos soldados romanos para marcar a troca de guarda. Carlos Magno tinha uma ampulheta de 12 horas. Cristóvão Colombo usava uma de meia hora.

O relógio de vela consiste numa vela posta numa base com marcações espaçadas – usualmente com números – que indicam a passagem do tempo, servindo também para iluminação do ambiente. Mesmo que não mais utilizados na actualidade, os relógios de vela foram, no passado, um método eficaz de consultar as horas em ambientes internos, à noite ou em dias nublados (quando os relógios de sol não funcionam). 

Um relógio de vela podia ser facilmente transformado num temporizador com o uso de um prego pesado na marca indicando o intervalo temporal desejado. 

Quando a cera envolvendo o prego derretia, este caía na base por baixo da vela.

Relógio de Azeite típico da Alemanha e Áustria no séc. XVIII. O azeite contido no receptáculo de vidro, baixa de nível ao ser consumido por combustão.

Nos conventos, era comum o monge-relógio, aquele religioso que, para informar o tempo que passava, recitava orações por determinado período.

Nos castelos e palácios da Europa antiga, usava-se o relógio de fogo, que consistia em uma corda parafinada com nós que queimavam a intervalos regulares.

Numa outra passagem da Bíblia, no Novo Testamento, João evangelista (II-9) conta que, dirigindo-se Jesus para a Judeia onde seu amigo Lázaro estava enfermo, seus discípulos tentaram impedi-lo por lá ter sido apedrejado pelos judeus uns dias atrás, ao que Jesus respondeu: “Não há doze horas no dia?”. Uma indicação que Jesus conhecia o relógio de Sol.

Na peça teatral de Aristófanes que foi encenada pela primeira vez em 392 a.C. em Atenas, “A Assembleia das Mulheres”, uma mulher acusa o marido de passar o tempo a olhar para a sua sombra até que ela atingisse dez pés. Nessa altura sentava-se à mesa para comer. Era muito comum utilizar o tamanho da sombra para se situarem no tempo.

Para marcar os tempos de distribuição da água para rega os romanos utilizavam relógios de Sol. Ainda existem em Portugal alguns exemplares desses relógios.

Qual é a relação dos relógios de sol com o misticismo? É curioso porque há pessoas que ainda ligam muito ao lado mítico dos relógios solares. Até existe uma reza para quando se compra um relógio. Conhece-a? É assim:
“Eu, fulano tal, sou teu dono. E por isso te ordeno: em primeiro lugar, obedeces a Deus; em segundo, obedeces ao sol; em terceiro, obedeces a mim. Eu sou teu dono, por isso te ordeno: dá vida e sorte a mim e a todos os que moram nesta casa. Assim to ordeno”. Esta oração foi recolhida em Trás-os-Montes, há muitos anos. Mas vem com um aviso: “Esta oração não é todavia eficiente se não forem cumpridas mais algumas condições. Na verdade, o relógio de sol dá sorte a uma casa apenas enquanto o seu dono for vivo. No caso de ser um relógio de sol herdado ou comprado, deve o novo proprietário arrancá-lo do lugar para o mudar de sítio mesmo que seja por um centímetro. E terá então de rezar a oração para lhe fazer ver quem é o novo dono. Só depois de cumpridas estas formalidades é que o quadrante voltará a dar sorte à casa”.
Os relógios de sol por vezes têm inscrições com dizeres populares, não é?
Sim, por exemplo “Enquanto olhas, fujo”, “A luz do céu é o que nos guia” ou, o mais conhecido de todos, “O tempo foge”.
Os relógios sempre estiveram muito ligados à superstição.

Os trabalhadores do campo descobriram que, deixando a enxada a descansar com o cabo de pé, e desde que o Sol fizesse incidir a sombra do cabo sobre a base da enxada, o tempo que durava a passar a sombra na enxada, de uma ponta à outra ou do meio até à ponta, correspondia aproximadamente a duas e uma hora, respectivamente. Assim, tinham um relógio de Sol que se montava num instante, quando se fazia a pausa para o almoço (o jantar de outrora) e sesta, e que funcionava com suficiente rigor para ajudar a recuperar as forças, as dores nas costas e o suor no rosto.

.

Texto e imagem retirados do livro “Medição do Tempo em Torres Vedras Pág. 84

Perguntaram um dia a Santo Agostinho o que era o Tempo e ele respondeu: “Se me não perguntar, sei o que é. Se me perguntar, não sei responder.

Então Deus disse: “Que a luz exista!”
chamou à luz “dia” e à escuridão “noite”
Que existam luzeiros no firmamento, para distinguirem o dia da noite;
E que eles sirvam de sinal para marcar as divisões do tempo, os dias e os anos.

E Deus fez os dois grandes luzeiros;
O maior deles, o SOL, para presidir ao dia, e o mais
pequeno, a LUA, para presidir à noite
e ainda as ESTRELAS.

Este pequeno texto está escrito na Biblia – Genesis – Criação do Mundo. Encontrámo-lo transcrito no livro “As Horas de Leiria” de José Mota Tavares – páginas 16 a 23 e pensámos ser curioso mencioná-lo aqui.

Há cerca de 2400 anos, o mestre daoista Zhuangzi (庄子, 370-301 a.C.) contava aos seus discípulos a seguinte parábola:
Certo homem vivia perturbado ao observar a própria sombra e as pegadas que deixava, que considerava grilhões à sua liberdade. Por isso, decidiu livrar-se delas. Começou a correr, mas sempre que colocava um pé no chão, lá aparecia uma nova pegada, enquanto a sombra o acompanhava sem a menor dificuldade, por maior que fosse a velocidade a que corria. Julgou que não estava a andar depressa o suficiente, pelo que aumentou a velocidade da corrida. Até que caiu por terra, morto.
O erro, concluiu Zhuangzi, foi o facto de ele não ter percebido que, se fosse para um lugar sombrio, a sua própria sombra desapareceria; e se tivesse ficado parado, as suas pegadas deixariam de aparecer.
Na realidade, há tempo para andar, e tempo para parar. Resta saber quando o devemos fazer. O que nem sempre é fácil.

Isolada, com um ar meio perdido junto à entrada para um couto de caça, a Anta de Brissos, passa facilmente despercebida a quem não está com atenção suficiente, sobretudo quando se vai no sentido Escoural-São Brissos. Tem entre cinco e seis mil anos, e da anta primitiva restam alguns esteios, um dos quais está caído ao lado da capela, e parte da laje de cobertura, que foi integrada no tecto da ermida. Está pintada de branco, com uma faixa azul na base, à maneira das casas típicas alentejanas, e só é possível visitar o interior mediante marcação antecipada. O seu nome religioso é Capela de Nossa Senhora do Livramento, atribuído após a sua transformação e cristianização no séc. XVII, e é monumento nacional desde 1910. Até recentemente foi lugar de romaria, especialmente por alturas da Páscoa. A Senhora do Livramento está tradicionalmente associada ao parto, mas a que está nesta capela tem desempenhado também uma outra função: a de invocar as chuvas em anos de seca prolongada. E porquê? Num local cuja mística se perde nos tempos, claro que teria de haver uma lenda. São Brissos é um santo português que terá sido o segundo bispo de Évora. Supostamente martirizado pelos romanos no séc. IV d.C., existem no Alentejo várias povoações com o seu nome, e uma delas fica bem perto da anta-capela, pelo que a imagem do santo ocupa lugar de destaque na igreja da localidade.

A Anta do Estanque é um caso muito particular. Está num canto da parede de uma casa em São Geraldo, Montemor-o-Novo, e até tem um canteiro de flores e vasos de barro. No passado recente chegou a ser a lareira dos miúdos para aquecer as mãos no inverno. É dos poucos casos conhecidos de um monumento megalítico ter aproveitamento doméstico, inclusive ter servido de lareira. No testemunho de Feliciano Minhoca “os miúdos daqui faziam lá lume, no inverno, para se aquecerem. Eu não porque quando vim para aqui tinha 39 anos.” Feliciano Minhoca é o único residente permanente da pequena rua onde se encontra a anta. Chama-se Rua Esquerda. “Antes era o Monte do Estanque. Há muita gente que vem ver a anta, até estrangeiros. Alguns ficam admirados”.  Depois de dobrarmos a última casa da rua, deparamo-nos com a anta num canto de uma habitação com paredes brancas e linhas azuis. O granito, a pedra bruta dos sete esteios, faz um grande contraste. A entrada do antigo espaço funerário tem cerca de metro e meio de altura. No interior consegue-se ver facilmente os esteios originais que deverão ter mais de 5 mil anos. Algumas pedras fecham os intervalos entre os esteios. No chão encontram-se objetos domésticos, o que leva a supor que sirva para depósito caseiro.

Não posso deixar de mostrar aqui o maior cromeleque do mundo: Stonehenge. O Templo de Stonehenge, foi assim que o senti quando o visitei. O que levou os homens a construí-lo?  Como local de celebração? De Cemitério e homenagem aos seus mortos? Para marcar a passagem do Sol e a mudança das Estações? Como foram levadas para lá pedras com mais de 35 toneladas? Stonehenge guarda em si todas estas perguntas e os seus mistérios e isso sente-se quando estamos lá.

This website uses cookies to improve your experience. Cookie Policy