Desde tempos perdidos no tempo que grandes pensadores têm mergulhado fundo no fenómeno “Tempo”. O Tempo é de certo o assunto mais estudado pela humanidade e também o mais desconhecido.
Se o Sol não existisse, o “Planeta Azul” seria um Mundo vazio. Ele oferece a energia necessária para fazer crescer a vida.
Curiosos, os homens primitivos perceberam que o Sol aparecia e desaparecia, todos os dias, no mesmo local. Foram registando os períodos com dias mais quentes e mais frios, as alturas em que as árvores ficavam despidas de folhas e quando os brotos começavam a despontar. Numa busca incessante para tentar compreender estas e outras caras da natureza, o Homem deu-se conta da sua própria sombra ou da sombra de uma árvore e viu que ela era maior ou menor com o passar do dia e que, nos dias nublados ou chuvosos, ou à noite, não havia sombras. Estas observações terão dado origem à necessidade de medir o tempo e aos primeiros relógios de Sol.
Assim, os nossos antepassados começaram a marcar com grandes pedras, algumas das quais chegaram até hoje, o local onde o Sol se erguia no horizonte e quando partia. Abrimos este trabalho com vários desses grandes monumentos em que Portugal é rico.
Procuramos neste obra dar a conhecer os mais de 1500 relógios de Sol que conseguimos encontrar no nosso país, histórias e curiosidades interessantes sobre eles. Levar-vos-emos pela mão dos estudiosos das ciências da matemática e astronomia e dos conhecimentos técnicos.
Deixamos também aqui o sentir desses pensadores que nos mostram que não comandamos o “Tempo”. Somos conduzidos por “Ele”.
Será que ainda faz sentido, hoje em dia, olhar para um relógio de Sol?
Relógios de Sol em Portugal
O Homem começou a “pensar” o Tempo e a ter consciência do Tempo no Neolítico. São exemplos os conjuntos monumentais: antas ou dólmenes, menires, cromeleques, que os especialistas associam as espaços sagrados, a monumentos funerários, mas também à surpreendente função de marcadores do tempo.
Sombras do Tempo – Panagiotis Sarantopoulos – Universidade de Évora
Damos agora um salto de cinco mil anos e encontramo-nos com os últimos cinco séculos de história dessas fantásticas construções que unem a Terra ao Sol. Queremos deixar aqui uma homenagem a todos os pensadores, astrónomos, matemáticos, desenhadores e canteiros que tornaram possível tamanha riqueza. Não mencionaremos os seus nomes porque são muitos e muitos não conhecemos. Na certeza de que somos “Todos Um” e todos gostarão que o seu trabalho seja recordado.
Infelizmente a maioria dos Relógios de Sol, que encontramos, não nos indicam as coordenadas do local para onde foram concebidos, por isso e usando a tecnologia actual, é possível determinar as coordenadas onde se encontra o Relógio, o que é determinante para que o Gnómon possa ter uma posição correcta.
Os mais antigos em Portugal séculos XVI e XVII
Os Relógios de Sol e os Romanos
Tivemos a grata oportunidade em Janeiro de 2016 de poder visitar a exposição Ibérica “Lusitânia Romana – Origem de Dois Povos”
“…Roma trouxe consigo e expandiu a sua ideia de Estado e a sua Cultura a todo o território peninsular, articulando uma rede de infraestruturas e gerindo um tecido político, administrativo e religioso com a figura da cidade como eixo fundamental. Este feito histórico dilatou-se ao longo de cinco séculos e do seu legado patrimonial disfrutam hoje tanto o Reino de Espanha como a República Portuguesa. De forma especial, a província da Lusitânia é um paradigma de uma realidade cultural que une ambos os estados. Os vestígios arqueológicos reunidos, bens culturais únicos que se mostram nesta Exposição e Catálogo têm como função fundamental: contar a história da antiga ocupação humana do território da Lusitânia hoje a maior parte de Portugal e parte de Espanha…”.
São muito poucos os relógios de Sol dessa época encontrados em Portugal. Mostramos abaixo as quatro peças com as quais tivemos contacto e fotografámos, sendo que uma se encontra, neste momento, no Museu Nacional de Arte Romano em Mérida. Ao clicarem sobre as peças entrarão numa página mais detalhada deste assunto.
Tipos de Relógios de Sol mais comuns
Tal como ensina, de forma simples e didáctica, o Engenheiro Jaime Ribeiro, Gnomonista, no seu artigo “Teoria sobre os relógios de Sol”:
“…basicamente os relógios de Sol são Horizontais e Verticais. No caso destes últimos podemos, de facto, classificá-los com vários adjectivos consoante a orientação relativamente aos pontos cardeais, sobretudo: Sul, Este, Oeste, com a indicação ou não, dos graus de declinação da parede. Ainda dentro destas duas categorias básicas temos os Relógios Horizontais Analemáticos e os Inclinantes – quando a superfície de apoio, faz um certo ângulo com o plano horizontal ( não são comuns, mas existem) e os Relógios Verticais declinantes e Equatoriais Armilares. Um outro tipo de Relógio Vertical é o Relógio Cilíndrico. Depois existem outras especificidades Relógios Esféricos, Duplos, Triplos e até Quádruplos, Polares, etc., reconheço haver alguma “imaginação” , associada aos usos e costumes dos locais onde se encontram…”
A partir do século XII, por influência da cultura árabe, dos conhecimentos matemáticos do povo da Babilónia e também pela invenção do relógio mecânico ( entre 1250 e 1300 ), surge uma nova geração de relógios de sol, com mostradores que consideram o dia solar dividido em 24 horas. Estes relógios, mais rigorosos na informação do tempo, tanto para a actividade rural, como para a urbana, vão ficar conhecidos como relógios de Horas Babilónicas ou Itálicas e vão manter-se até finais do século XVII.
Os conhecimentos entretanto difundidos sobre astronomia e o funcionamento do sistema solar, bem como descoberta do isocronismo das oscilações por Galileu em 1583, vão permitir, a partir do século XVII, construir relógios de sol e mecânicos, com um nível de precisão até então desconhecido, dando origem a uma nova geração de relógios de Sol, relógios de Horas Francesas e fazer cair nos esquecimento as duas primeiras gerações”.
Mostramos alguns exemplos desse valioso património que fomos encontrando pelo país, para que fiquem registados os diferentes tipos de instrumentos de medição do tempo que os nossos artistas foram criando.
Relógios de Sol Portáteis
Aquando da nossa investigação sobre como, quando e por quem teriam entrado os relógios de Sol portáteis em Portugal, chegou-nos às mãos um muito interessante livro “Grandezas de Lisboa” de Frei Nicolau de Oliveira (1566 – 1634), escrito em 1610, onde exalta e descreve pormenorizadamente a cidade. A folhas 98 ficámos a saber que por essa altura existiriam 3 relojoeiros de relógios de Sol e 3 outros de relógios de ferro, a trabalhar na capital. Os relógios de ferro seriam certamente relógios mecânicos das torres das Igrejas e/ou outros. Quanto aos relógios de Sol, seriam de pedra? Certamente que não porque esses seriam chamados de artífices ou canteiros. Será que se referia a Relógios de Sol portáteis?
Mostramos aqui, o que encontrámos em Portugal, inseridos em colecções nacionais. Desde o século XVI até à actualidade, de artífices nacionais ou de outras proveniências. De materiais nobres, ouro, prata, marfim a madeira. Dos tipos mais comuns horizontais, passando pelos cúbicos, cilíndricos, equatoriais esféricos e complexos equatoriais universais, aos raros anéis astronómicos. Conseguimos reunir um pouco de todos, sendo os mais conhecidos os dípticos que são ao mesmo tempo horizontais e verticais.
Estamos certos que haverá muito outros aos quais não conseguimos chegar. Ficamos gratos a quem os possua e os queira partilhar.
É pequena a ideia que muitos de nós temos de que um Relógio de Sol é em pedra e está colocado nas Igrejas ou nas frontarias de palácios e lugares públicos. Como acabámos de exemplificar, o Mundo dos Relógios de Sol vai muito além. Quando começaram a ser construídos, os relógios portáteis, no século XVI, eram posse dos senhores que precisavam deles para as suas viagens, ou dos detentores do poder que os usavam por ostentação, muitos deles nem sabiam como trabalhavam. Hoje, não são mais necessários e fazem parte de colecções que, nos transportam para esse passado. Muitos deles são belíssimos e eram fabricados com materiais nobres como o ouro, a prata e o marfim. Lisboa teve um papel importante no comércio do marfim, vindo de África, com a Alemanha (Nuremberga), onde residiam os mais conhecidos fabricantes da época.
Nesta nossa pesquisa ouvimos alguém comparar o astrolábio do seculo XVI com o GPS do século XX. Acrescentaríamos de forma ousada que, os cromeleques da pré-história, são agora os nossos computadores.